Repressão e tortura na ditadura militar
Os métodos de tortura
utilizados pelo regime militar eram tão cruéis que levavam à morte os
torturados ou deixavam-nos loucos. Por Mateus Ramos, Adital

O pau-de-arara, um dos métodos de tortura mais usados.
"É como se eles corrompessem sua alma, destruindo o que você tem de
bom (...). Eles querem, através do massacre, da desumanidade, que você
traia, que você rompa todos os vínculos que tem, como no caso que eu vi,
de uma menina que entregou o próprio pai”.
O trecho acima faz parte de uma longa entrevista concedida por Maria do
Carmo Serra Azul à Adital. Cacau, como é conhecida pelos amigos, é uma
ex-presa política, que foi torturada nos porões do DOI-CODI, um dos
órgãos repressores da ditadura militar brasileira.
As torturas a que eram submetidos os presos políticos levaram ao
surgimento de outro termo: desaparecidos políticos, pessoas que
simplesmente sumiram após serem detidas
___________________________Os órgãos de repressão____________________________
"Você, agora, vai conhecer a sucursal do inferno”. (Palavras proferidas
por um oficial do exército a Frei Tito, quando este era levado para o
interrogatório e, consequentemente, para as torturas)
"Diziam que a tortura não era institucional, eu me entreguei na 10º
Legião militar e saí de lá encapuzada e sofrendo agressões, então é tudo
uma grande mentira, havia sim o conhecimento do que acontecia com os
presos políticos (...). No próprio quartel, havia uma placa com a sigla
DOI-CODI”, lembra Cacau, sobre o dia em que se entregou à polícia.
Os órgãos de repressão da ditadura militar brasileira eram vários, mas
vamos nos ater aos mais importantes e temidos, como o DOI-CODI. Foram
nos porões desse órgão onde a maioria dos presos políticos foi
torturada, humilhada e muitas vezes morta.
O DOI-CODI, que era chefiado pelo, então, Capitão Carlos Alberto
Brilhante Ustra, era formado por dois órgãos distintos, o Destacamento
de Operações e de Informações (DOI), responsável pelas ações práticas de
busca, apreensão e interrogatório de suspeitos, e o Centro de Operações
de Defesa Interna (CODI), cujas funções abrangiam a análise de
informações, a coordenação dos diversos órgãos militares e o planeamento
estratégico do combate aos grupos de esquerda. Embora fossem dois
órgãos distintos, eram frequentemente associados na sigla DOI-CODI, o
que refletia o caráter complementar dos dois órgãos.
Ustra, em 2008, tornou-se o primeiro militar a ser reconhecido pela
Justiça brasileira como torturador no período da ditadura. Durante uma
sessão da Comissão da Verdade, em 2013, o ex-sargento do Exército
Marival Fernandes testemunhou que o ex-comandante, era o "senhor da vida
e da morte" do DOI-CODI e "escolhia quem ia viver e morrer".
Outro braço importante da repressão e que causava calafrios nos presos
era o Esquadrão da Morte, liderado pelo delegado Sérgio Fleury. O
Esquadrão, que surgiu na década de 1960 em São Paulo, era um grupo
paramilitar cujo objetivo era perseguir e matar supostos criminosos
tidos como perigosos para a sociedade.
O seu comandante, Fleury, era um dos mais cruéis interrogadores,
frequentemente os presos interrogados por ele morriam durante as
torturas. "Ele frequentemente contava vantagens afirmando ter sido a
pessoa que matou o Marighella”, conta Cacau.
Maria do Carmo foi uma das pessoas que enfrentou o interrogatório de
Fleury e sobreviveu. Ela conta que todos os interrogatórios feitos por
ele eram alternados entre torturas e conversas. "Ele me perguntava: você
está gostando? Você quer que eu repita? Aí eu dizia: não. E ele
retrucava, pois então fale. E eu respondia: mas eu não sei”.
Censura
Além da repressão violenta, havia também a censura. Durante a ditadura,
foi enorme a censura sob as produções culturais que contrariavam as
doutrinas militares. O órgão responsável por ela, durante o regime, era a
Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP). Para aprovar a letra
de uma música, por exemplo, era necessário enviá-la para o DCDP e se não
fosse liberada pelo órgão, a gravadora poderia abrir um recurso a ser
julgado pelos censores, que ficavam em Brasília. Eles analisavam como
eram tratados os bons costumes e a crítica política contra o regime
militar.
"Eles se achavam omnipotentes, inalcançáveis, o que não era tão verdade
assim. Eu ainda tinha o controlo sobre o que eu faria. O que eles
queriam, eu sabia, e só diria se eu quisesse”, ressalta Cacau.
Curiosidades
Alguns factos curiosos ocorreram na época da censura, coisas que poucas pessoas sabem, vejamos:
Gilberto Gil fez a composição da música "Aquele Abraço” após ter sido preso. Ele acreditava que seria morto.
Chico Buarque, quando escreveu a canção ‘Apesar de você’ o fez pelo
descontentamento com a falta de liberdade durante a ditadura. O cantor
externou seu desapontamento na canção, onde a crítica era disfarçada
como uma briga entre namorados. Ao enviar a canção para o departamento
de censura, ele imaginou que a letra seria vetada, mas acabou sendo
permitida.
Após a gravação de "Apesar de você”, os censores tornaram-se bastante
rígidos com Chico Buarque, que, então, passou a utilizar também o
heterónimo Julinho de Adelaide, para fugir da censura. Após a descoberta
de que Julinho de Adelaide e Chico eram a mesma pessoa, os censores
passaram a exigir cópias de RG (Bilhete de Identidade) e CPF (número do
contribuinte) dos artistas.
FONTE:http://www.esquerda.net/dossier/repress%C3%A3o-e-tortura-na-ditadura-militar/31936
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