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terça-feira, 15 de julho de 2014


Repressão e tortura na ditadura militar

Os métodos de tortura utilizados pelo regime militar eram tão cruéis que levavam à morte os torturados ou deixavam-nos loucos. Por Mateus Ramos, Adital
O pau-de-arara, um dos métodos de tortura mais usados.
"É como se eles corrompessem sua alma, destruindo o que você tem de bom (...). Eles querem, através do massacre, da desumanidade, que você traia, que você rompa todos os vínculos que tem, como no caso que eu vi, de uma menina que entregou o próprio pai”.
O trecho acima faz parte de uma longa entrevista concedida por Maria do Carmo Serra Azul à Adital. Cacau, como é conhecida pelos amigos, é uma ex-presa política, que foi torturada nos porões do DOI-CODI, um dos órgãos repressores da ditadura militar brasileira.
As torturas a que eram submetidos os presos políticos levaram ao surgimento de outro termo: desaparecidos políticos, pessoas que simplesmente sumiram após serem detidas 
 
___________________________Os órgãos de repressão____________________________

"Você, agora, vai conhecer a sucursal do inferno”. (Palavras proferidas por um oficial do exército a Frei Tito, quando este era levado para o interrogatório e, consequentemente, para as torturas)
"Diziam que a tortura não era institucional, eu me entreguei na 10º Legião militar e saí de lá encapuzada e sofrendo agressões, então é tudo uma grande mentira, havia sim o conhecimento do que acontecia com os presos políticos (...). No próprio quartel, havia uma placa com a sigla DOI-CODI”, lembra Cacau, sobre o dia em que se entregou à polícia.
Os órgãos de repressão da ditadura militar brasileira eram vários, mas vamos nos ater aos mais importantes e temidos, como o DOI-CODI. Foram nos porões desse órgão onde a maioria dos presos políticos foi torturada, humilhada e muitas vezes morta.
O DOI-CODI, que era chefiado pelo, então, Capitão Carlos Alberto Brilhante Ustra, era formado por dois órgãos distintos, o Destacamento de Operações e de Informações (DOI), responsável pelas ações práticas de busca, apreensão e interrogatório de suspeitos, e o Centro de Operações de Defesa Interna (CODI), cujas funções abrangiam a análise de informações, a coordenação dos diversos órgãos militares e o planeamento estratégico do combate aos grupos de esquerda. Embora fossem dois órgãos distintos, eram frequentemente associados na sigla DOI-CODI, o que refletia o caráter complementar dos dois órgãos.
Ustra, em 2008, tornou-se o primeiro militar a ser reconhecido pela Justiça brasileira como torturador no período da ditadura. Durante uma sessão da Comissão da Verdade, em 2013, o ex-sargento do Exército Marival Fernandes testemunhou que o ex-comandante, era o "senhor da vida e da morte" do DOI-CODI e "escolhia quem ia viver e morrer".
Outro braço importante da repressão e que causava calafrios nos presos era o Esquadrão da Morte, liderado pelo delegado Sérgio Fleury. O Esquadrão, que surgiu na década de 1960 em São Paulo, era um grupo paramilitar cujo objetivo era perseguir e matar supostos criminosos tidos como perigosos para a sociedade.
O seu comandante, Fleury, era um dos mais cruéis interrogadores, frequentemente os presos interrogados por ele morriam durante as torturas. "Ele frequentemente contava vantagens afirmando ter sido a pessoa que matou o Marighella”, conta Cacau.
Maria do Carmo foi uma das pessoas que enfrentou o interrogatório de Fleury e sobreviveu. Ela conta que todos os interrogatórios feitos por ele eram alternados entre torturas e conversas. "Ele me perguntava: você está gostando? Você quer que eu repita? Aí eu dizia: não. E ele retrucava, pois então fale. E eu respondia: mas eu não sei”.
 
Censura
Além da repressão violenta, havia também a censura. Durante a ditadura, foi enorme a censura sob as produções culturais que contrariavam as doutrinas militares. O órgão responsável por ela, durante o regime, era a Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP). Para aprovar a letra de uma música, por exemplo, era necessário enviá-la para o DCDP e se não fosse liberada pelo órgão, a gravadora poderia abrir um recurso a ser julgado pelos censores, que ficavam em Brasília. Eles analisavam como eram tratados os bons costumes e a crítica política contra o regime militar.
"Eles se achavam omnipotentes, inalcançáveis, o que não era tão verdade assim. Eu ainda tinha o controlo sobre o que eu faria. O que eles queriam, eu sabia, e só diria se eu quisesse”, ressalta Cacau.
 
Curiosidades
Alguns factos curiosos ocorreram na época da censura, coisas que poucas pessoas sabem, vejamos:
Gilberto Gil fez a composição da música "Aquele Abraço” após ter sido preso. Ele acreditava que seria morto.
Chico Buarque, quando escreveu a canção ‘Apesar de você’ o fez pelo descontentamento com a falta de liberdade durante a ditadura. O cantor externou seu desapontamento na canção, onde a crítica era disfarçada como uma briga entre namorados. Ao enviar a canção para o departamento de censura, ele imaginou que a letra seria vetada, mas acabou sendo permitida.
Após a gravação de "Apesar de você”, os censores tornaram-se bastante rígidos com Chico Buarque, que, então, passou a utilizar também o heterónimo Julinho de Adelaide, para fugir da censura. Após a descoberta de que Julinho de Adelaide e Chico eram a mesma pessoa, os censores passaram a exigir cópias de RG (Bilhete de Identidade) e CPF (número do contribuinte) dos artistas.

FONTE:http://www.esquerda.net/dossier/repress%C3%A3o-e-tortura-na-ditadura-militar/31936
 

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